“Não há dúvida, está perdida. Deu uma volta, deu outra, já não
reconhece nem a ruas nem os nomes delas, então, desesperada, deixou-se cair no
chão sujíssimo, empapado de lama negra, e, vazia de forças, de todas as forças,
desatou a chorar. Os cães rodearam-na, farejam os sacos, mas sem convicção,
como se já lhes tivesse passado a hora de comer, um deles lambe-lhe a cara,
talvez desde pequeno tenha sido habituado a enxugar pratos. A mulher toca-lhe
na cabeça, passa-lhe a mão pelo lombo encharcado, e o resto das lágrimas
chora-as abraçada a ele.”
José Saramago, in
"Ensaio sobre a Cegueira"
Os amigos importam-se, compreendem, acompanham, cuidam…
Os amigos sabem a força de um abraço, o poder dos silêncios ou da
palavra exata.
Os amigos conjugam o verbo amar no presente, sempre, e para
sempre.
Assim são os cães da
minha rua.
Soni Esteves
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