quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Amigos

“Não há dúvida, está perdida. Deu uma volta, deu outra, já não reconhece nem a ruas nem os nomes delas, então, desesperada, deixou-se cair no chão sujíssimo, empapado de lama negra, e, vazia de forças, de todas as forças, desatou a chorar. Os cães rodearam-na, farejam os sacos, mas sem convicção, como se já lhes tivesse passado a hora de comer, um deles lambe-lhe a cara, talvez desde pequeno tenha sido habituado a enxugar pratos. A mulher toca-lhe na cabeça, passa-lhe a mão pelo lombo encharcado, e o resto das lágrimas chora-as abraçada a ele.”
José Saramago, in "Ensaio sobre a Cegueira"




Os amigos importam-se, compreendem, acompanham, cuidam…
Os amigos sabem a força de um abraço, o poder dos silêncios ou da palavra exata.
Os amigos conjugam o verbo amar no presente, sempre, e para sempre.
Assim são os cães da minha rua.

Soni Esteves

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