domingo, 16 de dezembro de 2018

Natal não é quando um cão quiser


Sei que está próximo o Natal. Sei, porque há luzes a enfeitar as árvores e os jardins da minha rua. Sei porque se fala de férias e os meus humanos divertem-se a espalhar adornos que fogem da normalidade. Trouxeram até um pouco de jardim para o átrio da nossa casa! É uma árvore, mas a fingir, daquelas que só têm cor e forma, mas não tem cheiro que me motive a usá-la para qualquer outro fim, que não seja o de a olhar, espantado. Para terem uma ideia, está ornamentada de bolinhas, mas não posso tocar-lhes! Tem luzinhas irritantes, constantemente a acender e a apagar, devem estar avariadas, e ninguém parece perceber! E mesmo no cimo, tem uma estrela que não brilha nem cintila como as que vejo no céu, mais pequenas!
Em casa fala-se de Natal, na televisão fala-se de Natal, e eu tento perceber que espécie de energia diferente se apodera das pessoas e as faz quererem dar presentes e estar presentes, por um dia, uma noite, um momento, um clique na distância, tão solitário como os dias de muitos amigos meus.
E é aí que eu me sinto ditoso, porque não preciso de uma data especial para ter o que me faz feliz. Para mim é Natal quando a minha família me passeia, quando me fazem carinhos, quando me secam o pelo depois de uma chuvada, ou uma chuveirada, quando me deixam provar da comida deles, quando cuidam de mim e colocam no meu olho bom a gotinha que previne a cegueira que me persegue... 
E melhor do que aquilo que recebo, só o quanto consigo dar, porque o que me deixa mesmo aos pulos é poder encher de mimos os meus humanos.
Enfim, todos os dias acontece Natal na minha vida.  E só lamento que muitos dos meus amigos não tenham uma família para mimar! Infelizmente, Natal não é quando um cão quiser...




Soni Esteves, dezembro de 2018


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