quinta-feira, 20 de julho de 2017

Dias de cão: Há cães com sorte!?

Há expressões habitualmente ouvidas que dizem muito sobre o modo como os cães são tidos e achados nas vidas e nos corações (ou fora deles) dos humanos. Quando alguém diz “tive um dia de cão”; “que sorte de cão”; “sozinho como um cão”; “abaixo de cão”; “atrás… como um cão” está, normalmente, a expressar algum tipo de desventura!
Sei bem que a “sorte” dos cães mudou, porque também os homens mudaram, e hoje, quando assim falamos, já o fazemos a rir, porque a fortuna ou a falta dela não são apanágio de cães ou de humanos, mas tão só aquela que a uns e outros calha, por nascimento, por merecimento, por busca pessoal, ou porque sim…
Os cães da minha rua são “cães de sorte”. Se há quem diga que “é bom viver em Braga”, eles podem dizer que “é bom viver no meu bairro” (se excluirmos os foguetes de fim-de-semana), que o diga o Corredor.
Quem leu o livro “Os cães da minha rua”, sabe que este meu amigo, também conhecido por Pintas (pelas pintas que tem no corpo, ou quem sabe, pela pinta que tem no porte), quando chegou ao meu bairro teve “um dia de cão”, viveu dias a fio “sozinho como um cão”, foi tratado “abaixo de cão” pelos cães vizinhos do jardim que o acolheu, enfim… “sorte de cão”. Mas nunca foi atrás de ninguém “como um cão”.
Antigamente, quem o quisesse ver era ir ao parque/jardim, e ele ali estava… na sombra de uma árvore, no abrigo de um arbusto, à porta do humano que lhe deu agasalho na reentrada da garagem. Hoje o Corredor tem muitos abrigos possíveis, muitos humanos o reclamam, o alimentam, o querem abrigar, mas ele, embora aceite o abrigo dos corações, continua fiel ao parque e ao primeiro humano que o resgatou do frio e da chuva no seu primeiro inverno.
O Corredor está velho! O corpo acusa o peso dos anos e da comida que lhe oferecem e ele aprendeu a aceitar. Não pede… mas aceita. Assim faz com os carinhos… não os reclama, mas consente-os.
Há poucos dias pude observar um acontecimento inédito. O Corredor, de coleira, passeava no parque com uma trela, presa na mão do seu primeiro amigo humano.
            “Fui ontem com ele ao médico, o coração está fraco… respira mal… o pelo está todo a cair… tomou um comprimido em jejum, agora tem de passear um bocado e depois toma outro…” e continuou a falar das maleitas do amigo, dos cuidados que lhe proporcionaria, das noites que teriam de ser passadas no abrigo da garagem e não na reentrância desta como era usual há anos… quem sabe não teria de o prender de dia para evitar que andasse muito ao calor, que lhe faria mal, com toda a certeza…
            E eu pensei que, de facto, talvez não exista isso de “vida de cão” quando há pessoas que vivem a sua humanidade e têm a capacidade de perceber a felicidade que um cão pode representar nas suas vidas. Basta aceitá-lo e amá-lo, porque quando o fazemos já ele se antecipou e faz o mesmo por nós.




Sem comentários:

Enviar um comentário