domingo, 3 de dezembro de 2017

Natal em (re)construção


Só me lembro que havia muito frio. Por certo,  não haveria sempre neve, mas essa lembrança embargou-me a memória, e fez para sempre branco o Natal da minha infância.
E havia um pinheiro sublime, aquele que já em novembro eu cobiçava na bouça de meus pais, coitado, que o não deixava medrar. Eram outros tempos, outras preocupações, distantes da ecologia que hoje se apregoa. E musgo, apanhava-o em grandes “postas”, retiradas com jeitinho dos valados dos caminhos, para os lados da tapada que tinha por nome “cabeça de vaca”, nunca percebi porquê.
No pinheiro havia flocos de algodão e algumas fitas coloridas que serpenteavam pelo meio daquela “neve” que, como se aquecida pela lareira, se desfazia em finos fios pelas ramagens.
E o musgo espalhava-se num canto da cozinha, por cima de caixas que seriam montes onde ovelhinhas pastavam, acompanhadas por um pastor. E havia outros que, em fila, seguiam o caminho dos Reis Magos, um carreiro feito de farinha sobre o verde, em direção à gruta mais ao fundo, muito perto do pinheiro onde haveriam de chegar.
Lembro-me de que, num qualquer vale daquele presépio, havia sempre um lago de espelho feito, onde se refletia um pescador que nas suas margens ensaiava pescaria.
E pasme-se, havia uma banda daquelas que eu via nas romarias, cujos músicos se perfilavam, como se fossem romeiros naquela caminhada para Belém.
E era assim que o Natal ganhava forma, sentido, e espírito, como hoje se diz, até na publicidade.
Mas o Natal da minha infância cumpria-se em plenitude quando o Menino, por milagre, aparecia na manjedoura, na madrugada de 25 de dezembro, onde os Reis Magos então, terminada a longa caminhada, se detinham em admiração e oração, como eu acreditava.
E hoje, rememorando aquele canto, não sei como era tamanho o meu presépio!






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