segunda-feira, 13 de agosto de 2018

ESTUÁRIO e outros livros, de Lídia Jorge


O meu primeiro encontro com Lídia Jorge deu-se com A Costa dos Murmúrios, em 1988 (tenho o costume de registar a data da leitura nos meus livros) e não foi um encontro feliz. Confesso que andei às voltas com ele, como quem revolve  a comida no prato, comendo devagar, sem se decidir se gosta ou não gosta.
Esqueci a autora até Março de 2003, por altura da Feira do Livro de Braga. Lídia Jorge apresentava o seu mais recente romance, O Vento Assobiando nas Gruas, e eu resolvi fazer parte do grupo que encheu a sala para a receber. Entre os participantes estava o saudoso professor Agostinho Domingues que, aberto o espaço ao diálogo, mais do que colocar uma pergunta, fez uma curiosa observação sobre o título do livro. Foi quanto bastou para que ali se estabelecesse uma espécie de diálogo, no qual eram evidentes a admiração e o respeito, quer pela escrita de um, quer pela leitura do outro. Corri a comprar o livro, que Lídia Jorge autografou depois de uma breve conversa em que me senti à vontade até para falar da minha frustração perante o primeiro contacto com a sua escrita, ao que ela, sempre sorridente, respondeu mais ou menos, o que depois escreveu na dedicatória “Para a Soni, que muito gostei de conhecer, esperando que fiquemos próximas. Abraço amigo...”. Li-o sem hesitações e apreciei cada uma das (confirmo agora) 538 páginas! É, sem dúvida, uma das obras que pertence à minha seleção de grandes livros.
Depois disso, tentei reler A Costa dos Murmúrios, mas desisti nas primeiras páginas e não voltei a Lídia Jorge até estes dias, quando em boa hora me debrucei sobre O Estuário.
O romance narra o reencontro de uma família, devolvida à velha casa, de onde há largo tempo os irmãos haviam partido. Cada um tem uma história que talvez merecesse ser contada, e é por entre pedaços das suas vidas que Lídia Jorge nos orienta, no seu admirável modo de narração. Com uma voz original,  poética e sábia, vai construindo sentidos,  como se cada personagem  perseguisse uma “luz velada”  que vai lançando “boias à superfície, sugerindo coerência entre os factos”, até à descoberta de uma lógica quase impossível na “rede de ligações obscuras submersas” que, irremediavelmente, existe em cada um.
Enfim, O Vento Assobiando nas Gruas não é, afinal, uma ilha na obra da autora. Lídia Jorge, estamos mais próximas! Os Memoráveis é a leitura que se segue.

Soni Esteves, agosto de 2018



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