Este verão fiz uma curta viagem a Amesterdão, uma das cidades que
fazia parte dos meus locais a visitar. Quando o itinerário estava acertado,
escolhi o meu livro de bagagem. Faço-o sempre, não pode ser pesado e, de
preferência, deverá ter alguma relação com o destino. Pareceu-me a altura ideal
para reler Eu, A Puta De Rembrandt, de Sylvie Matton.
Esse maravilhoso romance histórico, que li pela primeira vez no
ano 2000, havia-me dado a conhecer muito da vida e obra do genial Rembrandt e,
na altura, motivou-me para uma série de visitas virtuais a fim de apreciar
muito do que no livro era descrito, nomeadamente, alguns quadros e gravuras, exibidos nas paredes dos principais museus mundiais. A autora afirma no
Posfácio “no livro tudo é verdadeiro” e, de facto, é visível o magnífico
trabalho de investigação, até no que toca à profundidade e generosidade de que
se revestia o amor entre Rembrandt e Hendrickje Stoffels, aquela que era socialmente
considerada “a puta de Rembrandt”.
Conhecer a casa onde o pintor viveu, sofreu e amou, entrar, espaço
a espaço, dos mais aos menos íntimos, confirmar o desenho das paredes, dos
móveis, dos livros, os cheiros das tintas, das gravações... foi quase entrar no
século XVII para revisitar um espaço querido. Por outro lado, a cidade, embora
preservando casas, pontes e outras construções da época, alterou-se
substancialmente, relativamente ao descrito. Felizmente, nada do cheiro podre dos canais,
dos ratos, da peste, da morte e da mísera mesquinhez dos códigos sociais.
Amesterdão é uma cidade limpa, bonita, moderna e imensamente acolhedora.
E fica-me, mais uma vez, a sensação de que viajar é a melhor forma
de conhecer o mundo, de ontem e de hoje, mesmo quando a viagem se faz apenas num
livro.
Soni Esteves, setembro de 2018

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