Terminei a leitura de A
Catedral do Mar no areal de uma praia em Vila de Conde. Melhor sítio só
mesmo em Barcelona, cenário deste magnífico romance histórico de Ildefonso
Falcones.
A idade média sempre foi uma época de fascínio para mim, desde
cedo alimentada pelas histórias de príncipes e princesas, florestas encantadas,
fadas, bruxas e mistérios. Mais tarde, os romances de cavalaria, ou as cantigas
de amor e de amigo haveriam de apaziguar o lado mais negro de uma época em que
nem tudo foram histórias de um amor cortês.
Mas se algum romantismo acerca dessa fase da história europeia ou
peninsular sobrasse em mim, este livro destrui-la-ia, inexoravelmente.
A crueza de uma guerra que se faz corpo a corpo; a fome que mora
em quase todas as casas para que o luxo e o excesso vistam e alimentem a
vaidade e a crueldade de outros; o dinheiro a ganhar terreno aos títulos e a
alimentar o egoísmo de uma burguesia ascendente; a génese dos mercados e
dos seguros; o cheiro a pobre e a sangue nas vestes de quem luta e trabalha sem
nunca ter nada de seu; a dor de quem rasteja, literalmente, aos pés do seu
senhor; a cobiça e a bondade, a lealdade e a traição, a sede de vingança e a
fome da destruição; a cor e o odor da peste; os judeus, a judiaria e o difícil
convívio com os cristãos, num tempo de mitos e intolerâncias; a feridade da
inquisição; a dor da perda, a dor de todas as perdas; a paixão, o amor e a
amizade, sempre, apesar de tudo... Está tudo ali, numa Barcelona do século XIV,
onde o ponto em que se cruzam as várias personagens coincide com o tempo da
edificação da catedral de Santa Maria del Mar.
Agora, sim, vou ver a série homónima da Netflix, mas, com certeza,
o livro será melhor. É sempre melhor!
Soni Esteves, agosto de 2019
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