O Outono dourou os caminhos por onde vagueiam os meus pés
cansados, e o sol acomoda-se à varanda, onde dormita a minha gata, sossegada,
esquecida do inverno que vem lá.
Nasceu na primavera, a minha gata! E são de verão e de sol os seus
dias, e os nossos, porque ela nos dá sons de mar no ronronar feliz e o céu
sem nuvens refletido nos olhos.
E quando se espreguiça, há montanhas castanhas no cimo do seu
dorso arqueado, de onde escorre uma neve branca e estranha, porque aquece e
conforta como uma manta de lã. Então, num exercício poético, espreitam, por
entre o branco, destemidas, as orelhas, a cauda, as patitas, e o focinho meigo, exibindo o negrume da terra acabada de lavrar.
E toda ela é chão e céu, onde eu gosto de pousar o olhar, a
descansar.
Soni Esteves, outubro de 2019
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