A sinopse, tal como as primeiras páginas, não deixam margem para dúvidas, O Romântico que lia Bukowski, de José Ilídio Torres, mais do que um trabalho de imaginação, reflete experiências do autor. Mas será mesmo assim?
Na verdade, neste livro, nem tudo o que parece é. Comecemos pelo título. Uma leitura mais distraída pode levar-nos a aceitá-lo como literal, Carlos, o escritor, personagem principal, autor (a acreditar que este é um romance autobiográfico) é um romântico que traz para a sua vivência as leituras de Bukowski. No entanto, quem já leu Bukowski consegue perceber a subtileza do paradoxo que ele detém.
Num ritmo rápido, o autor conduz-nos por uma narrativa onde é visível a força influenciadora da obra de Bukowski. De tal ordem, que a sua voz vai fazer-se ouvir através de uma personagem, quer na linguagem bukowskiana, quer na visão crua e algo misógina das mulheres, ou na sua relação descomprometida e descomplexada com estas. Esta visão/vivência, aparentemente em choque com a perspetiva mais romântica de Carlos, fascina-o, acabando por ser determinante no desenrolar da narrativa. Com efeito, Carlos vive, na relação com as mulheres, uma permanente dualidade, o romântico e o desencantado, o elogio da simplicidade e o fascínio da sofisticação. Numa sucessão de encontros, uns mais fugazes do que outros, Carlos parece empreender uma busca de si mesmo, ou tão só da identidade perdida com o final de um amor ainda não resolvido.
Leiam!
Soni Esteves, novembro, 2020
Sem comentários:
Enviar um comentário