sexta-feira, 7 de agosto de 2020

Pão com fiambre, Charles Bukowski

O romance de Charles Bukowski, publicado pela primeira vez em 1982, narra os anos de infância e juventude de Henry Chinasky, personagem que é apontada como o alter ego do autor, assumindo-se que o livro é parcialmente autobiográfico.

O herói da história é antes um anti-herói, que deambula por uma América marcada pela Grande Depressão até ao ataque de Pearl Arbor, que acontece quando ele tem idade para se alistar.  

Nunca me tinha acontecido detestar tanto o protagonista de uma história e, simultaneamente, sentir-me fascinada por ele.  Era o perfeito marginal a quem ninguém se deu ao trabalho de ensinar o amor e o respeito. Rude, insolente, misógino, feio, e, como se tal não bastasse, tinha um aperto de mão mole, fraco, embora passasse a vida a distribuir murros por coisa nenhuma. Já conheci personagens más, mas quase todas previsíveis, presas a uma fatalidade qualquer. Porém,  este Chinasky, apesar de detestável, tinha qualquer coisa de intrigante e desafiador que me prendia ao livro, como se me instigasse, a cada virar de página, a descobrir o porquê da sua maldade, do seu egoísmo, a encontrar, enfim, um motivo que determinasse a sua redenção!

Este foi até ao final, um livro envolvente e perturbador. A escrita é simples, frases curtas e diretas, sem artifícios, com muito diálogos, por vezes obscenos, e frequente recurso ao calão. Mas também se fala em livros e autores, bons livros e bons autores, porque esta personagem execrável, afinal lê, lê muito, embora o efeito que os livros têm nele não seja evidente, talvez porque a história termine numa fase em que ele tem escolhas para fazer...

Vale a pena ler!

                                                                                                         Soni Esteves, agosto de 2020




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