Tenho uma turma de 7.º ano, cuja infantilidade, por vezes, me
exaspera, mas um episódio ocorrido em finais de novembro, além de me divertir,
enterneceu-me.
Tínhamos terminado a leitura de O Cavaleiro da Dinamarca, de Sophia de Mello Breyner, e discutíamos
a simbologia da obra e do pinheiro de Natal, quando um dos alunos disse “A
terra do Pai Natal deve ser perto da terra do Cavaleiro”.
Aproveitei o facto de ter projetado o mapa que assinala a
viagem empreendida pelo Cavaleiro desde a Palestina à Dinamarca, para lhes
mostrar o sítio que, convencionalmente, é reconhecido como a terra do velhinho
das barbas, a aldeia de Rovaniemi, na Finlândia, terra da Lapónia, atravessada
pelo Círculo Polar Ártico. Uma chuva de perguntas caiu sobre esta minha
asserção: Como sabe? Já lá foi? Como é a
casa do Pai Natal? E ele estava lá? Falou com ele? As barbas são verdadeiras?
Tirou fotografias?
Dias depois de ter respondido, como soube e como pude, às
perguntas dos meus alunos, revisitei as fotografias da minha viagem à Lapónia e
selecionei algumas para lhes mostrar, antecipando a alegria que esperava ver
nos seus rostos, mas não imaginava que a alegria maior seria a minha.
Projetei, as paisagens glaciais de bétulas despidas e de
abetos enormes cobertos de neve, como os dos postais de natal, os rios e os
lagos gelados, onde barcos pequenos e grandes haviam ficado aprisionados pela grossa
espessura branca e fria. Mostrei, depois, as imagens da aldeia mítica, as
pequeninas casas de madeira por entre a alvura da paisagem, a casa do correio,
onde cartas de todo o mundo chegam, com pedidos e desejos, formulados em
línguas tão diferentes, mas com igual emoção. Exibi o trenó, as renas, e,
finalmente…a casa do Pai Natal e depois, ele próprio, sentado ao lado de uma
lareira enorme, todo como a imaginação dita, de vermelho vestido, e de barbas
caídas em cachos pelo peito, ar bonacheirão, e eu, pequenina, ao lado dele, com
riso largo, como o de qualquer vulgar criança.
Expressões de incredulidade surgiam dispersas, até que percebo
uma pergunta, em tom baixo formulada, “E as renas voam?”, e logo depois, como
que envergonhado da própria crença, “Não, não devem voar”.

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