segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Por terras da Lapónia, na sala de aula

Tenho uma turma de 7.º ano, cuja infantilidade, por vezes, me exaspera, mas um episódio ocorrido em finais de novembro, além de me divertir, enterneceu-me.
Tínhamos terminado a leitura de O Cavaleiro da Dinamarca, de Sophia de Mello Breyner, e discutíamos a simbologia da obra e do pinheiro de Natal, quando um dos alunos disse “A terra do Pai Natal deve ser perto da terra do Cavaleiro”.
Aproveitei o facto de ter projetado o mapa que assinala a viagem empreendida pelo Cavaleiro desde a Palestina à Dinamarca, para lhes mostrar o sítio que, convencionalmente, é reconhecido como a terra do velhinho das barbas, a aldeia de Rovaniemi, na Finlândia, terra da Lapónia, atravessada pelo Círculo Polar Ártico. Uma chuva de perguntas caiu sobre esta minha asserção: Como sabe? Já lá foi? Como é a casa do Pai Natal? E ele estava lá? Falou com ele? As barbas são verdadeiras? Tirou fotografias?
Dias depois de ter respondido, como soube e como pude, às perguntas dos meus alunos, revisitei as fotografias da minha viagem à Lapónia e selecionei algumas para lhes mostrar, antecipando a alegria que esperava ver nos seus rostos, mas não imaginava que a alegria maior seria a minha.
Projetei, as paisagens glaciais de bétulas despidas e de abetos enormes cobertos de neve, como os dos postais de natal, os rios e os lagos gelados, onde barcos pequenos e grandes haviam ficado aprisionados pela grossa espessura branca e fria. Mostrei, depois, as imagens da aldeia mítica, as pequeninas casas de madeira por entre a alvura da paisagem, a casa do correio, onde cartas de todo o mundo chegam, com pedidos e desejos, formulados em línguas tão diferentes, mas com igual emoção. Exibi o trenó, as renas, e, finalmente…a casa do Pai Natal e depois, ele próprio, sentado ao lado de uma lareira enorme, todo como a imaginação dita, de vermelho vestido, e de barbas caídas em cachos pelo peito, ar bonacheirão, e eu, pequenina, ao lado dele, com riso largo, como o de qualquer vulgar criança.
Expressões de incredulidade surgiam dispersas, até que percebo uma pergunta, em tom baixo formulada, “E as renas voam?”, e logo depois, como que envergonhado da própria crença, “Não, não devem voar”.
E eu, que vira o espanto crescer nos olhos dos meus alunos a cada nova fotografia, senti-me, mais que nunca, irmanada naquele espírito de sonho, e soube que aquele momento seria mais um a juntar aos muitos que povoam as minhas memórias natalícias.  


       

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