Sou,
como tantos e tantas, uma leitora de intermitentes vontades. Ora pego num livro
e nele mergulho de um folgo só, ora me deleito em breves viagens, até que surja
a palavra, a frase, a passagem, que me faça ler como se não houvesse amanhã e o
meu destino se cumprisse ali, naquelas páginas.
Dissertação
escusada sobre as árvores, de José Ilídio Torres, não foi o primeiro livro de um amigo que que li,
sei como é, a princípio estranha-se, falta-nos distanciamento, espreitamos por
detrás das metáforas, à espera de um rosto, um gesto, uma emoção. Depois a
leitura flui e a palavra impõe-se. Assim aconteceu, e no final do primeiro
poema estava “aparelhado o barco da ilusão”.
Li-o
como não costumo ler livros de poesia, de uma assentada. Repeti versos,
estrofes, poemas inteiros, e a cada leitura um novo olhar, a reinvenção das palavras
que outro escreveu.
Apetecia-me
ter escrito alguns daqueles versos, Ilídio, há neles a força vital do poeta, a renúncia
da vil servidão, da desumanização, do conformismo… há denúncia, raiva, e
luta. E há solidão, decadência e feridas abertas… há vida, enfim, porque não existem
eufemismos capazes de a definir, tal como é! Ainda assim, sobra sempre a
poesia, pois é na poesia que vivem todas as esperanças e toda a liberdade!
Perdoa,
José Ilídio, a minha leitura, mas o poema é também de quem o lê.
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