terça-feira, 18 de julho de 2017

O pescador de marés


O diálogo das ondas entrou no poema
Que morava na areia cálida a desfiar rosários nos meus dedos
Depois o vento brincou na minha pele 
E levou com ele a poesia
Havia desenhos sobre as dunas
E os cardos floridos agitavam-se breves sob o céu branco
Que acinzentava o mar
Pressenti o poema a florir
Na asa de uma gaivota que pousava
Mas o meu cão correu no seu encalço
E depois
Talvez cansado da minha quietude
Veio beijar-me o verso interrompido.

Havia um pescador de marés
A cintilar no olhar orvalhado do meu cão
E um lanço de areia a separa-nos
Como razão vazia das distâncias
E depois havia o mar
E a certeza das praias que beijava
E o dia haveria de descer
Sobre o homem que pescava marés
Sobre o meu cão que lhe velava a pescaria
E o sol haveria de cair
Até incendiar o mar
E de certo
Nada mais havia.

Soni Esteves, julho 2017


2 comentários:

  1. Lindo!🌸✨💕
    Se alguém escrevesse assim para mim, até eu arranjava uma cana e me plantava nos desenhos da espumada a pescar ... poemas!
    Beijinho a ambos!

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  2. O mar e o pescador ... fonte de tanta inspiração...Lindo!

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